sexta-feira, dezembro 30, 2005

Pelos vistos...não.

É sempre difícil quando esperamos uma coisa e de um momento para o outro estamos num ringue de boxe, sem assistência a apoiar, sem árbitro e sem adversário, ainda por cima. Ou quando estamos a andar na rua e começamos a tropeçar em pernas imaginárias que nos tentam pregar rasteiras nada imaginárias. Se calhar tenho tempo a mais nas minhas mãos e se calhar bastavam-me cinco horas por dia para fazer tudo aquilo que não faço em 24. Sim, os dias bem que podiam encolher! Para cinco horas ou menos. O tempo suficiente para acordar e voltar a dormir, comer um gelado (mesmo quem não goste de gelados), correr à volta da àrvore de Natal e descansar depois. Assim não havia tempo para lutas de pugilismo a horas mortas nem para corridas assassinas de cavalos de madeira ao anoitecer. Os duelos servem apenas para esfolar a cara no chão de cinza. Faz(-me) falta limpar a cara do pó e da cinza e olhar para cima; e caminhar sem olhar para o chão, descobrir o que os topos dos prédios escondem. E fazem falta umas tábuas de madeira para tapar um buraco que, de repente, vi abrir-se numa rua do Bairro Alto. Se calhar ainda lá está (espero que não tenha vindo atrás de mim). Não se deixem enganar pelo cheiro doce dos doces. Não caiam.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Tanta coisa para destruir um anel

Sentei-me a ver um filme. Eu que sei tanto de filmes como de botânica, vi, de novo, o “Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei”. Alguém me consegue explicar o porquê de eu ter visto um filme que já tinha visto? Pois, nem eu me consigo explicar a mim próprio. Além do mais, podia muito bem ter escolhido outro filme. Sei lá, um que não excedesse as catorze horas. Adiante.
A maioria das pessoas que está a ler isto (além de não ter nada para fazer) sabe a história do Frodo, por isso não a contarei.
Mas proponho algo novo. Aliás, não proponho nada. Eu cá só acho que se teria evitado muita pancadaria se Frodo tivesse empenhado o anel. Sim, eu sei que Rui Veloso não teria gostado da ideia, mas imaginem só se Frodo tivesse penhorado o anel. Vejam lá a quantidade de sangue e desgraça que não se poupava. É que assim aquela gente escusava de estar toda para ali a morrer e podiam ir para casa ver um DVD enquanto comiam uma tigela de pipocas. Eu cá acho que só lhes tinha feito bem. Agora andarem ali com lanças e flechas e espadas. Aquilo aleija. E é muito bem feito terem-se picado.
Além do mais, caso o pequeno Frodo tivesse penhorado o anel, podia muito bem ter comprado umas prendinhas para os seus amigos da Irmandade. E eu seria o primeiro a ajudar o Frodo. A saber:
- Para Sam, Merry e Pippin (e para ele próprio), um par de All Star’s. Todos de cores diferentes. Eu cá acho que teriam feito muito mais sucesso. Agora andarem ali descalços sobre rochas o tempo todo. É certo que os All Star não primam pelo conforto e fazem algumas bolhinhas nos pés do pessoal, mas sempre é melhor do que ter a planta do pé em carne viva. Digo eu.
- Para Legolas, um gorro. Com aquelas orelhas o desgraçado do Elfo nunca mais engata uma miúda. E, ainda por cima, o rapaz só pensa em pancadaria. Ó Legolas, e que tal se descansasses um pouco, hein?
- Para Gimli, uma Gillette. Ficava-lhe bem a barbinha feita.
- Para Aragorn, um canivete suíço. Este é outro que anda para ali com uma espada enorme e ainda se vai aleijar. Olha o McGyver. Andou a vida toda com um canivete suíço e enfrentou toda a espécie de terroristas e malfeitores. Além do mais, desembainhar um canivete suíço é bem mais fácil do que desembainhar uma espada que pesa alguns seis ou sete quilos.
- Para Gandalf, uma participação grátis em “Esquadrão G”. Ó feiticeiro branco, e que tal mudares de roupinha de vez em quando? É que o branco já não se usa. Já ninguém veste todo de branco. Só o Roberto Leal.
- Para Elrond, um dicionário de Élfico-Inglês, Inglês-Élfico. É que a falar assim ninguém te percebe, pá. É que, além de teres as orelhas pontiagudas, pões-te a falar assim, ó Elrond. Pá, não há gaja que se aproxime de ti assim. O Legolas, pronto, vá lá, ainda fala inglês (e bem poético, por sinal).
- Para Smeagol/Gollum, um ida a um salão de cabeleireiro e estética. Tadito, ‘tá tão mal arranjadinho. E o Frodo e o Sam bem podiam ajudar o pobre. Além de precisar de aconselhamento, nem um simples “vai lá que a gente paga-te a manicura” o pobre ouviu.
- Para o Olho Que Tudo Vê que está lá no cimo da torre, um monóculo. Caneco pá, é que o desgraçado está mesmo pitosga. E já que é só um olho não o posso mandar para a MultiOpticas, mas mesmo assim ainda lhe arranjo um monóculo e faço-lhe um descontozito igual á idade.
- Para Sauron, um jogo de tabuleiro (o “Risco”) ou um jogo de estratégia para computador (talvez o “Age of Empires”). Levaste cá uma tareia, ó Sauron. Tens de rever as tuas tácticas de guerra.
E pronto. Acabei de receber um telefonema de Peter Jackson a pedir-me para eu fazer uma edição especial em DVD com um final assim.
… ah!, acreditaram mesmo que eu recebi um telefonema do Peter Jackson. Oh, por amor de Deus. Como é que o multimilionário realizador da trilogia do “Senhor dos Anéis” me ia ligar a mim? Não foi ele. Era o Arnold Schwarzenegger.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

"Cimento que é quase água barrado com doce de tomate selvagem" - Capítulo II

Após tirar a mão de dentro do triturador, Faustino repara que tinha mesmo as unhas numa miséria e resolve por lá também a mão esquerda, na esperança de polir as unhas da mão esquerda. Assim o faz. Dinorá ainda lhe pergunta: “Quer um pouquinho de verniz? Tenho cá um que faz parte de uma remessa de cosméticos que os meus pais roubaram, armados com edições da “Visão” e da “Focus”, há uns dias a uma loja de chineses.”. Faustino aceita. Dinorá, num esforço sobre-humano, tenta libertar a perna do cano do lava-loiça, enquanto que o periquito falante grita desesperadamente: “Acabou-se-me o sésamo islandês. Dinoráááááááááá, que é que eu faço agora?”. Dinorá responde ao seu periquito tão-somente isto: “Então eu estou com uma perna presa no lava-loiça, tenho um gago a pedir-me verniz para as unhas, sou vesga, e a única coisa com que te preocupas é com as tuas sementes de sésamo? Julgava-te mais racional!”, grita Dinorá. O periquito, resignado, lá esquece o sésamo e voa até à casa-de-banho. “Há mais de duas semanas que o desgraçado anda incontinente e eu não sei o que fazer”, diz Dinorá em jeito de desabafo para Faustino, referindo-se ao periquito. Faustino aconselha Dinorá a não dar tantos ácidos ao pássaro. Dinorá julga que este se refere a drogas e irrompe numa choradeira que é ouvida em Porto Côvo. Rui Veloso aparece, do nada, com a sua guitarra, a cantar “Havia um pessegueiro na ilha, plantado por um vizir de Odemira, que dizem…”. Faustino interrompe o cantor: “O… o… olha lá ó… ó… ó… Rrrrrrrrruuuuuuui, n… n… n… naa… não tttttttens m m m m m m mái nada pa’ f… f… f… fazer?”. Rui Veloso responde-lhe: “Disseste que se eu fosse audaz, tu tiravas o vestido, o prometido é devido”. Afinal Rui aparecera do meio de um incêndio. Mais audaz do que isto é impossível. Faustino reconhece o arrojo de Veloso e despe o vestido de lantejoulas que traz vestido. Dinorá, ao ver isto, chora, ao ver que estão ali dois homens e nenhum a ajuda.

[não esquecer que até aqui os dois protagonistas ainda não trocaram olhares, uma vez que o fumo proveniente do incêndio da estância de obras do casino impede que tal aconteça]

Rui Veloso vai embora e Faustino, vestido apenas com lingerie vermelha, corre em socorro de Dinorá. Ao chegar pela segunda vez junto de Dinorá, Faustino aproxima-se. A nossa protagonista, num acto de desespero, abana os braços freneticamente e, no momento em que nada o fazia prever, toca no peito de Faustino. Embora usasse um 38 – copa B, Faustino era peludo. Muito peludo. Dinorá perde-se na floresta púbica de Faustino. Ainda não foram trocados olhares, mas já há algum romance no ar.
Faustino diz, com bastante bruteza: “Q… q… q… q’é isso ó ó ó ó ó ó su su su su su sua de de de de de de deprava… va… va… vada?. O… o… o… o… me me me me meu peito na na na na não é pa pa pa pa todos”.
No meio deste diálogo, a senhora que não tem nome entra, de rompante, ninguém sabe donde, com dois cafés, dizendo: “Pois é, pois é… pois é… sai um café!”.
Na rua passeia-se um jovem imberbe e inconsciente de nome Manfredo, com um daqules tijolos que os MC’s do hip-hop usam para “mandar som”. Ao ver isso, Faustino pensa, devido ao seu estrabismo bastante acentuado, que o estúpido e obtuso Manfredo (sempre que os concidadãos de Hanniye se referem a Manfredo fazem-no com, pelo menos, duas ofensas verbais) traz consigo um lança-rockets daqueles que os amaricanos utilizam. Faustino grita de desespero que nem uma mulher de cinquenta anos que acabara de ver o Tony Carreira. Para mal dos pecados dos nossos heróis, o tijolo musical que Manfredo carrega em ombros é ligado e, a partir daí, instalam-se o pânico e o desespero. Afinal, toca “Bed of Roses” de Bon Jovi, e Manfredo põe o volume no máximo.

Não percam o próximo capítulo de "Cimento que é quase água barrado com doce de tomate selvagem", uma história que move corações (os responsáveis pela gestão de orgãos humanos nos hospitais estão malucos com esta coisa de “mover corações”) e tem o estúpido hábito de não revelar nada de interessante num episódio.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

O trolha está entre nós...

Tudo começou depois de uma noite pouco dormida. Arrastar uma mala que tombava de passeio em passeio até uns táxis (o sono não impediu o riso) e carregar outras malas que nos faziam parecer corcundas. Dois taxistas que acabaram por ir pelo caminho mais longo e uns portugueses que cumpriram o "Código do Ser Português" e chegaram a horas. Uns olás, uns adeus rápidos e umas garrafas de vinho deixadas na origem (e que fizeram falta) ,umas botas que tiveram que ser descalçadas e estávamos dentro do avião. Barcelona vista de cima, Barcelona vista à superfície e Barcelona fora de visão a caminho de Baixador de Valvidrera. Por essa altura havia quem não sentisse as mãos por carregar malas, incluindo uma que continha todo o tipo de alimentos fedorentos (e que acabou por ficar deliberadamente abandonada e sozinha no quarto onde dormimos durante várias noites - RIP); as malas acabaram por ter uma boleia inesperada enquanto os seus donos caminharam mais um pouco a caminho dos seus quartos. Mais uma vez o "Código do Ser Português" foi cumprido. Um primeiro contacto com os bocadillos e uma fuga para Barcelona. De regresso, um primeiro contacto, ainda medroso, com os "estrangeiros", quase me esqueci que ali também eu era "estrangeiro" (mas por pouco tempo). A primeira noite foi uma noite de descobertas: descobriu-se que alguns dominavam quase na perfeição o castelhano, e que outros "entendiam" o italiano, descobriu-se que um espírito da construção civil (o vulgarmente conhecido Trolha) andava a pairar violentamente entre nós e descobriu-se que, mesmo com quase 20 anos, ainda se fazem os jogos de cartas mais estúpidos do 6º ano. Uma boa noite de sono curou a noite mal dormida da véspera e preparou-nos para um dia em cheio: Energizers, primeiras conversas em várias línguas e o primeiro desrespeito pelo "Código do Ser Português".

Continua (para bem de uns e para pesadelo de outros) ...

terça-feira, dezembro 20, 2005

"Cimento que é quase água barrado com doce de tomate selvagem" - Capítulo I

Na pacata aldeia de Hanniye o único ruído que se ouve é a soltura intestinal da senhora do café que não tem nome. Há dezoito anos perseguida por uma monumental cólica diarreica, a senhora que não tem nome, ainda assim, serve café com a mesma destreza e à-vontade que fizeram dela a “Garçonette 1985”, dias antes de ingerir umas salmonelas presentes num paté de sardinha que havia comprado na mercearia de Alfredo.
De repente, ouve-se um grito. Era Dinorá. Sylvester Stallone desde logo calça as duas luvas de boxe que utilizou para derrotar Dolph Lundgren e Mr. T só que, ao pegar simultaneamente no arsenal bélico que utilizou em Rambo percebe que, com as luvas, não consegue premir o gatilho da metralhadora que o celebrizou. Stallone resolve então pôr um avental e ir para a cozinha fazer um spaghetti.
Ainda horrorizada com o que acabara de ver, e com as cuecas que comprara na feira de S. Mateus todas sujas, Dinorá clama por ajuda, mas não obtém resposta. Afinal, era o pior alinhamento de sempre de um programa de televisão dos que são emitidos de manhã na televisão portuguesa. Juntos no “Você na TV” estavam (além do problema que já é lá estarem o Manuel Luís Goucha e a Cristina Ferreira) José Castelo-Branco, Serginho, Arlinda Mestre e António Calvário. O carteiro que toca sempre 37 vezes aparece, ninguém sabe donde, com um documentário do National Geographic sobre gnus, mas de nada serve. Dinorá está chocada.
Os pais de Dinorá, enquanto planeavam mais um assalto – desta feita a uma retrosaria – com um canivete tipo imitação de suíço, são informados pela senhora que não tem nome que serve cafés e diz “pois é”. “Sai um café… ah, sai um café, pois é… ah… hum… pois é… sai um café”, diz a senhora que não tem nome. Os pais de Dinorá, ao ouvirem isto da boca da senhora que não tem nome, correm ao encontro de Dinorá. Prontos para assaltarem a pobre assustada, na esperança de lhe roubarem o espartilho que veste todos os dias, tropeçam numa baixela de porcelana revestida a ouro de 24 quilaes ali, mesmo no meio das pedras da calçada de Hanniye. Surpresos, gritam com tudo e com todos, dizendo: “Já não se pode andar na rua que somos logo entalados por estes gajos da Câmara que põem aqui estas cenas só pa’ lixar um gajo!”. (A mãe de Dinorá também se intitula de “gajo”). E ficam ali, a barafustar com tudo e todos e com o ar.
Com toda esta acção ainda ninguém socorreu Dinorá. Mas eis que, ao fundo, enquanto Dinorá tem a perna presa no cano do lava-loiça da cozinha, vê, ao fundo, um clarão e uma luz muito forte. Era a estância das obras do casino de Hanniye que estava a arder. Dinorá perdia a esperança a cada segundo que passava. Agora era tarde de mais. Dinorá pensou em por cobro à vida. Pediu ao seu periquito falante uma manta para poder cobrir-se, mas o seu periquito (a voz da razão desta história) apenas lhe disse: “priu-piu-piu, isso é uma piada muito má”, e esbofeteou-a sete vezes.
Ao longe, Dinorá avista pela janela da cozinha um vulto a emergir das chamas. Por momentos, Dinorá pensa que esta é apenas uma visão do seu único olho que vê, mas não, desta vez é real. O vulto aproxima-se cada vez mais da casa de Dinorá. Dinorá sente medo. O periquito de Dinorá bebe toda a água que tem no bebedoiro e guarda toda a alpista e sésamo que tem na mala que comprou na Charles, em promoção.
Do meio do fumo irrompe uma voz: “N… n… n… nãããããão t… t… tteeeeemas, v… v… v… vim aquuuuuui pa… pa… pa… para te salvar”. Era Faustino. Enquanto batia em tudo o que era destroço e candeeiro devido ao estrabismo, Faustino declamava “A Desfolhada” de José Carlos Ary dos Santos, mas sem sucesso, uma vez que Dinorá só lia Margarida Rebelo Pinto. “Co… co… coorpo de linho / llllllllll…áááábios de m… m…osto / me me me me me meu corpo lindo / meu f… f… f… foooooogo posto / Eira de de de milho / luuuuuaaar de Agosto / qu… qu… quem faz um fffffffilho / fá fá fá fá fá fá-lo por gogosto”, declamava com alma e garra Faustino. Dinorá gritava: “Que é que está você a dizer?! Agora é que pensa na agricultura? Tire-me mas é daqui antes que o Serginho comece a falar com o José Castelo-Branco.”.
Faustino chega finalmente perto da janela da cozinha de Dinorá, mas, devido ao estrabismo, enfia a mão no triturador de lixo comprado na América por Dinorá. Agora Faustino grita de dor e, quando tira a mão direita, constata que tinha as unhas que eram uma limpeza.

O encontro entre Faustino e Dinorá está cada vez mais próximo. A minha dúvida é se, no próximo capítulo deva manter o suspense e, num texto tipo este (4368 caracteres) adie o encontro olhos nos olhos – ainda que difícil, uma vez que um é estrábico e a outra é vesga – entre Faustino e Dinorá para o capítulo três.
Logo vejo.
Agora vejam os “Morangos com Açúcar” ou “A Escrava Isaura” e depois venham cá dizer o que acham desta pérola novelística.
Eu cá gosto. Sabe-me a figos secos.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Estive p'raí três minutos a pensar num título para este texto e não me saiu nada

Mergulhado e empenhado em tentar perceber o que se passa na vida política portuguesa (não, não visitei a Assembleia da República porque a escadaria de acesso é pior – em tamanho e penosidade – do que o Bom Jesus de Braga). Afinal, dos possíveis candidatos à vitória nas eleições para a presidência da República, um é um velho senil, incontinente e jarreta e o outro fala como se lhe estivessem, por debaixo da mesa, a apertar, forte e impiedosamente, os testículos.
E não se queixem se a sinistralidade rodoviária aumentar durante o período de pré-campanha para as próximas eleições. Então põem-me fotos do Sr. Soares e do Sr. Cavaco nos outdoors? Pá, a reacção, pelo menos a minha, é soltar intensas gargalhadas e uns quantos gases intestinais.
Outra. O cartaz de Mário Soares diz: “Sempre presente nos momentos difíceis”. Constatei, enquanto conversava com uma amiga minha, que esta é uma frase que pode ter dois sentidos, sendo que me inclino mais para o segundo que irei enunciar. Ora, se está sempre presente nos momentos difíceis, significa que está pronto a agir e a ajudar Portugal a ultrapassar as adversidades. Não? Pois, se calhar não. Se calhar o que Soares queria dizer era que está sempre presente nos momentos difíceis, uma vez que é ele o responsável por eles. Assim sim, assim já é razoável. Outra coisa, Sr. Soares – eu sei que vai ler isto – que peregrina e parva ideia é essa de assinar os seus outdoors com “Soares 2006”? Mas o senhor é algum vírus informático ou quê?
Sabem porque é que Mário Soares tem de chegar sempre antes que os outros candidatos aos debates? …Para beber o diurético e mudar a algália! [não resisti. Ainda me surpreende o facto de eu me dar ao trabalho em pensar e formular pensamentos destes]
Será que é sinal de insanidade? Não, acho que é mais sinal de irritação cutânea facial devido à força com que me esquartejo enquanto me barbeio. “Ah!, afinal é assim a derme… E o que faz aqui esta glândula sebácea? Olha lá, ó Joaquina, não devias estar um pouco mais abaixo?”, disse eu enquanto me barbeava e constatei que já tinha arrancado toda a epiderme que tinha na cara com uma simples Gillette.
Só mais uma coisinha. Alguém me consegue explicar para que é que existem revistas que sabem os fins das novelas? Mas isso não… então mas isso não… ah… isso não faz perder a piada toda? Pior. Cada revista anuncia um final diferente. Pior ainda, uma revista é capaz de apresentar um final numa edição e três edições depois já está a expor um final completamente diferente. Pior ainda do que o período anterior – como é que eles sabem o final se ainda não deu na televisão? [coçar incessantemente a cabeça até arrancar algum couro cabeludo]

Serve a presente para informar que darei início a uma novela. Apresento, desde já, as personagens. To Zé Martinho, lê isto e vê lá se gostas.
Espaço onde decorre a acção – A pequena aldeia libanesa de Hanniye é o local escolhido para as filmagens.
Ano – Mil-nove-noventa-e-nove.
Clima – Todos anseiam a chegada do Bug informático do ano 2000 que destruirá todos os computadores existentes no mundo, o que desperta em todos grande tensão e o medo de não poderem jogar novamente ao Solitário no seu PC.
Personagens principais – Dinorá é uma estudante transmontana que é cega de uma vista e tem uma acentuada corcunda, mas sonha encontrar o amor da sua vida. Faustino é um jovem empresário de sucesso na área do fabrico de pasta de papel. A sua única fragilidade é ser gago e estrábico.
Quanto a personagens secundárias, temos o periquito falante de Dinorá, com quem ela se aconselha todos os dias; os pais de Dinorá, um casal de ex-presidiários de Vale dos Judeus (ambos condenados por assalto à mão armada – com um tijolo e paus – a uma loja de animais); a mãe de Faustino, uma mulher barbuda que, por ser atracção circense, não passa tempo nenhum em casa e perdeu toda a infância do filho; Sylvester Stallone, no papel de ele próprio, um amigo de ambas as famílias que deseja ardentemente a felicidade de todos; a senhora do café que não tem nome e que só diz “pois é” e “sai um café”; o carteiro, um homem com um sentido de humor péssimo que em vez de bater duas vezes bate 37, o que já se tornou um incómodo para todas as famílias;

Apenas digo que futuramente, e durante o decorrer da acção, apresentarei novas personagens e que terá início a única novela cujo final ninguém saberá por intermédio de revistas femininas que têm por hábito destruir os sonhos de quem ainda gosta de seguir uma boa novela pela televisão.

E sim, prometo um final o mais previsível possível.

P.S. - Não tinha maneira como acabar este texto por isso, aqui fica um P.S.!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

David, faz um favor a ti mesmo e cala-te!

Suposto era o Natal ser tempo de paz e amor. Pelo que tenho visto nos últimos tempos estamos, isso sim, num período de guerra. As mercearias gladiam-se para ver qual delas apresenta o maior e mais pesado cabaz de Natal do planeta. Os anúncios a bonecas que arrotam e já têm menstruação levam-me ao desespero, gritando pelos Playmobil’s e Legos que tantas alegrias me deram na minha infância. Os circos invadem a cidade de Lisboa qual Napoleão a conquistar todos aqueles países que conquistou (não os nomeio porque não sei mesmo quais foram. Sei só que o senhor até tinha umas terras ali para os lados da Europa toda). Para ajudar à festa terei de passar o Natal a ouvir idosos senis que querem ser Presidentes da minha República. Piedade.
Cabaz de Natal – pânico. O que é aquilo? Só uma mente perturbada podia criar algo assim, senão vejamos: bacalhau, pinhões, chocolates, vinho, cajú, azeite, nozes, moscatel, queijo, figos secos, uísque… mas, não chega já? A besta que criou o primeiro cabaz esteve a um passo de juntar um leitão e um pudim-flan. Se eu fosse gerente de uma qualquer mercearia ou café de bairro, na altura dos ansiados sorteios (para muitas famílias é o evento do ano) compraria também uns sais de frutos e uns Ultralevures, assim para o caso de – sendo a probabilidade disso acontecer de 98 por cento – se dar uma epidemia diarreica.
E como é que se come aquilo? Tudo duma vez? Estou a imaginar o Manél (é só assim o nome dele)… enquanto come o bacalhau – cru, de preferência – grita para a mulher, um ser com mais de sete toneladas e meio de peso: “Jaquina, traz-me aí os chocolates de frut’s do mar!! Deve ficar m’ta bom c’o bacalhau! E depois unta tudo com azeite!”.
Outra. A Al-Qaeda e outras facções terroristas estão a considerar a utilização de cabazes de Natal portugueses como armas. Não há cá mais Antrax ou bombas no Metro… “Eles mahala mahala vão ver como é mahala mahala! Quando o cabaz lhes cair no mahala mahala bucho até choram mahala!”, diz Tamir para Zai’iq enquanto compram numa qualquer mercearia portuguesa um cabaz de dimensões monstruosas. (É, só sei dizer “mahala”… paciência).
“Então Ali, o que te ensinaram hoje na ‘Escola de devastação de infiéis’?”, pergunta o pai orgulhoso para Mohammed, o seu filho de 13 anos que, no lugar de responder: “Aprendi a desmontar uma Kalashnikov em menos de 2 minutos.”, respondeu: “Aprendi com o sargento Mustafa que toda a variedade de frutos secos portugueses, quando ingerida em simultâneo, provoca diarreias do arco-da-velha!”.
Imaginem agora a devastação que não será. Fujam. Eu cá vou… eu vou… bem, não sei o que vou fazer, mas não é esconder-me num bunker, de certeza. Vou antes tomar uns digestivos e tornar-me vegetariano.
Circo – [lágrima no canto do olho] …terror. Em todos, mas em todos, mas mesmo em todos, é que não falha um, é mesmo em todos… [chega!] em todos os circos existe um Maxi, o trapezista voador. “Cuidado Maxi! Atenção. Maxi tentará agora um quíntuplo salto mortal para trás encarpado enquanto serve chá a Milene, a sua companheira. Atenção. ……… (as reticências representam o rufar) ! Magnífico. Maxi, enquanto saltou, teve ainda tempo para arranjar as unhas. Magnífico!”, diz o senhor do circo cuja única função é anunciar nomes hilariantes e comentar com mestria, qual Gabriel Alves, as manobras impossíveis dos artistas.
Outra coisa. Porque raio o bruto do baterista não pára quieto quando, por razões por mim ainda desconhecidas, um trapezista desafia a vida, a mais de dez metros de altura só para agradar aos cinco (pronto, vá, seis) espectadores de uma matiné? É que… não é suposto o desgraçado precisar de se concentrar antes de dar um salto completamente estúpido para depois se ir agarrar a uma cena cujo nome não sei? E para uma pessoa se concentrar, não convém que haja silêncio? Então se convém que haja silêncio, porque é que o parvo do baterista não pára de rufar? Quer matar o homem ou quê? …sinceramente.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Belmiro, prepara-te! Tomarei os mercados de assalto.

Supermercados. Horror. Terror. Pavor. Palavras acabadas em “or”.
Debruço-me hoje sobre o orgulho da nossa nação – não é o Figo nem muito menos a Júlia Pinheiro. São as superfícies comerciais. Grandes ou pequenas, com nomes como o de uma gota adocicada ou algo que não são arquipélagos (isto só para não dizer os nomes deles. Não posso fazer publicidade devido ao contrato que mantenho com… com… com ninguém, mas pronto), as superfícies comerciais proporcionam a nós, meros consumidores, autênticas odisseias de loucura.
É aterrador o facto de tudo estar dividido por corredores finitos e, por vezes, a fronteira entre os vinhos e a puericultura ser quase nula. Ou até mesmo a charcutaria, tantas vezes a emanar o intenso e bruto cheiro a presunto para a secção dos produtos de higiene. Ainda no outro dia comprei um gel de banho (do mai’ rançosos) e tal não foi o espanto quando o abri, para cheirar, e fragrância a mortadela com azeitonas omitia o perfume do sabonete líquido.
Fiquei estarrecido quando, há coisa de três/quinze dias, visitei o mini-mercado lá da minha área. Ora, na caixa registadora estava escrita a seguinte informação: “Estimado cliente, se desejar adquirir Gillettes, pilhas ou Caldos Knorr, peça à operadora de caixa.”. Após a leitura deste autêntico poema, não sabia se rir, se chorar ou se sair dali aos gritos de pânico. Analisei as hipóteses de haver alguma lógica ali escondida, mas desde logo me apercebi que estava perante génios da construção frásica e limitei-me a urinar-me ali mesmo.
“Estimado cliente” – esta é a primeira. Desde quando é que nós somos estimados pelas pessoas que ali trabalham? Os coletes reflectores são bem mais amarelos do que aqueles sorrisos que a nós são dirigidos na hora do pagamento. A expressão utilizada pelas pessoas que estão ali sentadas o dia todo a amealhar varizes e reumático é: - “Tem cartão família?”. Qualquer dia pegam num impresso de Censos ou então perguntam-nos: - “Sofre de espandilose? E de alguma DST?”. Ainda por cima nós sabemos que, por detrás daqueles sorrisos todos está um ser humano com vontade de nos espancar, uma vez que, para variar, trouxemos um saco de fruta sem o pesarmos na balança própria que está na zona das frutas e legumes, o que implica que tem de se chamar a salvadora – a patinadora. Sonho com o dia em que vou chocar com uma patinadora de um qualquer supermercado. Ou então com o dia em que lhe roubar os patins. [AHAHAHAHAHAHAH – riso doido]
Outra. Porque é que para levarmos para casa Gilletes, pilhas ou Caldos Knorr, temos de pedi-los à operadora de caixa? Porque é que é ela (ou ele, às vezes também há senhores a operar caixas… má piada, eu sei) que tem esses artigos? Simples.
Gillettes – porque aproveitam para fazer o bigode, e algumas a barba. Todos sabemos (e sem desprimor para as pessoas em causa) que as operadoras de caixa dos supermercados possuem buços mais farfalhudos do que Chalana;
Pilhas – porque os/as operadores/as de caixa funcionam a pilhas. Para estar o dia todo a ouvir o “bip” ensurdecedor (excede, em muito, os decibéis produzidos pelos agudos gritos de Nuno Guerreiro enquanto canta) das máquinas de registar os códigos de barras e para todo o movimento destas ‘criaturas’ se limitar à passagem dos mesmo pelas máquinas… bem, só posso deduzir que funcionam a pilhas (das dos chineses, que duram meia-hora);
Caldo Knorr – porque ali, por baixo do tapete rolante no qual são colocadas as compras, está um enorme tacho de um qualquer cozinhado que é mexido pelos pés descalços das operadoras. Ora, para que o refogado e tudo o resto fique bem feito, é necessário um ou dois calditos Knorr. A mestria é tanta que o Caldo Knorr é colocado entre os dedos dos pés e o lançamento do mesmo para a panela (também com os pés) é já prova Olímpica.
Acabo de ver um cavalo branco com a crina pintada de cor de rosa a voar lá fora. É melhor calar-me.