"Cimento que é quase água barrado com doce de tomate selvagem" - Capítulo I
Na pacata aldeia de Hanniye o único ruído que se ouve é a soltura intestinal da senhora do café que não tem nome. Há dezoito anos perseguida por uma monumental cólica diarreica, a senhora que não tem nome, ainda assim, serve café com a mesma destreza e à-vontade que fizeram dela a “Garçonette 1985”, dias antes de ingerir umas salmonelas presentes num paté de sardinha que havia comprado na mercearia de Alfredo.
De repente, ouve-se um grito. Era Dinorá. Sylvester Stallone desde logo calça as duas luvas de boxe que utilizou para derrotar Dolph Lundgren e Mr. T só que, ao pegar simultaneamente no arsenal bélico que utilizou em Rambo percebe que, com as luvas, não consegue premir o gatilho da metralhadora que o celebrizou. Stallone resolve então pôr um avental e ir para a cozinha fazer um spaghetti.
Ainda horrorizada com o que acabara de ver, e com as cuecas que comprara na feira de S. Mateus todas sujas, Dinorá clama por ajuda, mas não obtém resposta. Afinal, era o pior alinhamento de sempre de um programa de televisão dos que são emitidos de manhã na televisão portuguesa. Juntos no “Você na TV” estavam (além do problema que já é lá estarem o Manuel Luís Goucha e a Cristina Ferreira) José Castelo-Branco, Serginho, Arlinda Mestre e António Calvário. O carteiro que toca sempre 37 vezes aparece, ninguém sabe donde, com um documentário do National Geographic sobre gnus, mas de nada serve. Dinorá está chocada.
Os pais de Dinorá, enquanto planeavam mais um assalto – desta feita a uma retrosaria – com um canivete tipo imitação de suíço, são informados pela senhora que não tem nome que serve cafés e diz “pois é”. “Sai um café… ah, sai um café, pois é… ah… hum… pois é… sai um café”, diz a senhora que não tem nome. Os pais de Dinorá, ao ouvirem isto da boca da senhora que não tem nome, correm ao encontro de Dinorá. Prontos para assaltarem a pobre assustada, na esperança de lhe roubarem o espartilho que veste todos os dias, tropeçam numa baixela de porcelana revestida a ouro de 24 quilaes ali, mesmo no meio das pedras da calçada de Hanniye. Surpresos, gritam com tudo e com todos, dizendo: “Já não se pode andar na rua que somos logo entalados por estes gajos da Câmara que põem aqui estas cenas só pa’ lixar um gajo!”. (A mãe de Dinorá também se intitula de “gajo”). E ficam ali, a barafustar com tudo e todos e com o ar.
Com toda esta acção ainda ninguém socorreu Dinorá. Mas eis que, ao fundo, enquanto Dinorá tem a perna presa no cano do lava-loiça da cozinha, vê, ao fundo, um clarão e uma luz muito forte. Era a estância das obras do casino de Hanniye que estava a arder. Dinorá perdia a esperança a cada segundo que passava. Agora era tarde de mais. Dinorá pensou em por cobro à vida. Pediu ao seu periquito falante uma manta para poder cobrir-se, mas o seu periquito (a voz da razão desta história) apenas lhe disse: “priu-piu-piu, isso é uma piada muito má”, e esbofeteou-a sete vezes.
Ao longe, Dinorá avista pela janela da cozinha um vulto a emergir das chamas. Por momentos, Dinorá pensa que esta é apenas uma visão do seu único olho que vê, mas não, desta vez é real. O vulto aproxima-se cada vez mais da casa de Dinorá. Dinorá sente medo. O periquito de Dinorá bebe toda a água que tem no bebedoiro e guarda toda a alpista e sésamo que tem na mala que comprou na Charles, em promoção.
Do meio do fumo irrompe uma voz: “N… n… n… nãããããão t… t… tteeeeemas, v… v… v… vim aquuuuuui pa… pa… pa… para te salvar”. Era Faustino. Enquanto batia em tudo o que era destroço e candeeiro devido ao estrabismo, Faustino declamava “A Desfolhada” de José Carlos Ary dos Santos, mas sem sucesso, uma vez que Dinorá só lia Margarida Rebelo Pinto. “Co… co… coorpo de linho / llllllllll…áááábios de m… m…osto / me me me me me meu corpo lindo / meu f… f… f… foooooogo posto / Eira de de de milho / luuuuuaaar de Agosto / qu… qu… quem faz um fffffffilho / fá fá fá fá fá fá-lo por gogosto”, declamava com alma e garra Faustino. Dinorá gritava: “Que é que está você a dizer?! Agora é que pensa na agricultura? Tire-me mas é daqui antes que o Serginho comece a falar com o José Castelo-Branco.”.
Faustino chega finalmente perto da janela da cozinha de Dinorá, mas, devido ao estrabismo, enfia a mão no triturador de lixo comprado na América por Dinorá. Agora Faustino grita de dor e, quando tira a mão direita, constata que tinha as unhas que eram uma limpeza.
O encontro entre Faustino e Dinorá está cada vez mais próximo. A minha dúvida é se, no próximo capítulo deva manter o suspense e, num texto tipo este (4368 caracteres) adie o encontro olhos nos olhos – ainda que difícil, uma vez que um é estrábico e a outra é vesga – entre Faustino e Dinorá para o capítulo três.
Logo vejo.
Agora vejam os “Morangos com Açúcar” ou “A Escrava Isaura” e depois venham cá dizer o que acham desta pérola novelística.
Eu cá gosto. Sabe-me a figos secos.
De repente, ouve-se um grito. Era Dinorá. Sylvester Stallone desde logo calça as duas luvas de boxe que utilizou para derrotar Dolph Lundgren e Mr. T só que, ao pegar simultaneamente no arsenal bélico que utilizou em Rambo percebe que, com as luvas, não consegue premir o gatilho da metralhadora que o celebrizou. Stallone resolve então pôr um avental e ir para a cozinha fazer um spaghetti.
Ainda horrorizada com o que acabara de ver, e com as cuecas que comprara na feira de S. Mateus todas sujas, Dinorá clama por ajuda, mas não obtém resposta. Afinal, era o pior alinhamento de sempre de um programa de televisão dos que são emitidos de manhã na televisão portuguesa. Juntos no “Você na TV” estavam (além do problema que já é lá estarem o Manuel Luís Goucha e a Cristina Ferreira) José Castelo-Branco, Serginho, Arlinda Mestre e António Calvário. O carteiro que toca sempre 37 vezes aparece, ninguém sabe donde, com um documentário do National Geographic sobre gnus, mas de nada serve. Dinorá está chocada.
Os pais de Dinorá, enquanto planeavam mais um assalto – desta feita a uma retrosaria – com um canivete tipo imitação de suíço, são informados pela senhora que não tem nome que serve cafés e diz “pois é”. “Sai um café… ah, sai um café, pois é… ah… hum… pois é… sai um café”, diz a senhora que não tem nome. Os pais de Dinorá, ao ouvirem isto da boca da senhora que não tem nome, correm ao encontro de Dinorá. Prontos para assaltarem a pobre assustada, na esperança de lhe roubarem o espartilho que veste todos os dias, tropeçam numa baixela de porcelana revestida a ouro de 24 quilaes ali, mesmo no meio das pedras da calçada de Hanniye. Surpresos, gritam com tudo e com todos, dizendo: “Já não se pode andar na rua que somos logo entalados por estes gajos da Câmara que põem aqui estas cenas só pa’ lixar um gajo!”. (A mãe de Dinorá também se intitula de “gajo”). E ficam ali, a barafustar com tudo e todos e com o ar.
Com toda esta acção ainda ninguém socorreu Dinorá. Mas eis que, ao fundo, enquanto Dinorá tem a perna presa no cano do lava-loiça da cozinha, vê, ao fundo, um clarão e uma luz muito forte. Era a estância das obras do casino de Hanniye que estava a arder. Dinorá perdia a esperança a cada segundo que passava. Agora era tarde de mais. Dinorá pensou em por cobro à vida. Pediu ao seu periquito falante uma manta para poder cobrir-se, mas o seu periquito (a voz da razão desta história) apenas lhe disse: “priu-piu-piu, isso é uma piada muito má”, e esbofeteou-a sete vezes.
Ao longe, Dinorá avista pela janela da cozinha um vulto a emergir das chamas. Por momentos, Dinorá pensa que esta é apenas uma visão do seu único olho que vê, mas não, desta vez é real. O vulto aproxima-se cada vez mais da casa de Dinorá. Dinorá sente medo. O periquito de Dinorá bebe toda a água que tem no bebedoiro e guarda toda a alpista e sésamo que tem na mala que comprou na Charles, em promoção.
Do meio do fumo irrompe uma voz: “N… n… n… nãããããão t… t… tteeeeemas, v… v… v… vim aquuuuuui pa… pa… pa… para te salvar”. Era Faustino. Enquanto batia em tudo o que era destroço e candeeiro devido ao estrabismo, Faustino declamava “A Desfolhada” de José Carlos Ary dos Santos, mas sem sucesso, uma vez que Dinorá só lia Margarida Rebelo Pinto. “Co… co… coorpo de linho / llllllllll…áááábios de m… m…osto / me me me me me meu corpo lindo / meu f… f… f… foooooogo posto / Eira de de de milho / luuuuuaaar de Agosto / qu… qu… quem faz um fffffffilho / fá fá fá fá fá fá-lo por gogosto”, declamava com alma e garra Faustino. Dinorá gritava: “Que é que está você a dizer?! Agora é que pensa na agricultura? Tire-me mas é daqui antes que o Serginho comece a falar com o José Castelo-Branco.”.
Faustino chega finalmente perto da janela da cozinha de Dinorá, mas, devido ao estrabismo, enfia a mão no triturador de lixo comprado na América por Dinorá. Agora Faustino grita de dor e, quando tira a mão direita, constata que tinha as unhas que eram uma limpeza.
O encontro entre Faustino e Dinorá está cada vez mais próximo. A minha dúvida é se, no próximo capítulo deva manter o suspense e, num texto tipo este (4368 caracteres) adie o encontro olhos nos olhos – ainda que difícil, uma vez que um é estrábico e a outra é vesga – entre Faustino e Dinorá para o capítulo três.
Logo vejo.
Agora vejam os “Morangos com Açúcar” ou “A Escrava Isaura” e depois venham cá dizer o que acham desta pérola novelística.
Eu cá gosto. Sabe-me a figos secos.
1 Comments:
Fantástico.
Até agora a minha personagem favorita é a senhora que não tem nome. É bem vísivel que essa personagem tem ainda muito para dar à novela. Muitos cafés estão ainda por servir.
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