domingo, março 26, 2006

Cacilheiros e Àrvores

Um convite repentino para ir de barco para o outro lado do rio à noite? Primeiro recusa-se, depois aceita-se. Uma passadeira enorme numa estação de metro enorme e um olho num coelho gigante a ver as horas. Tentar passar discretamente e sem atrapalhar por um homem e uma mulher que se preparavam para se comer de forma poética e banal a 5 centimetros do Tejo. Espero sinceramente que tenha sido do seu agrado. Encher de moedas uma máquina que apenas aceitava quantia exacta e receber tudo de volta ao jeito de Jackpot numa slot-machine! De seguida viagem de barco surpreendemente rápida, viagem de autocarro que também passou depressa. (terá sido a ida que levou a crer que tudo seria rápido no regresso?) Uma exposição vista com atenção e gosto. O regresso feito com mais um elemento. E depois, a mais surreal da viagens de cacilheiro, dando um novo sentido à expressão: "Posso mandar-vos borda fora?". A noite era ainda púbere, portanto nada melhor que uma viagem a um qualquer avião. Agora com mais outro elemento. Alguns caminhos começam a saber-se de cor, e mesmo olhando para o dia de ontem. Algumas memórias de infância e juventude divertem alguns e aborrecem outros, mas elas teimam em sair. Por outro lado, certas memórias da própria noite desaparecem passado dois dias, talvez abafadas por algo "licoroso". Esperar por vez para comer algo, esperar por vez para subir para uma àrvore que já esperava uma visita há muito. E não saber usar as telecomunicações, fazer o pino para não se dizer aquilo que se quer e acabar a rebolar juntamente com o mundo. É bom caminhar para casa e sentir o dia dos outros a começar, pisar as pedras da calçada como se fossemos os primeiros. Sempre com uma "eulália" na cabeça.

sábado, março 18, 2006

Momento Letras de Músicas #8


What Becomes of the Brokenhearted

As I walk this land of broken dreams
I have visions of many things
But happiness is just an illusion
Filled with sadness and confusion

What becomes of the brokenhearted
Who had love that's now departed?
I know I've got to find
Some kind of peace of mind
Maybe

The roots of love grow all around
But for me they come a tumbling down
Every day heartaches grow a little stronger
I can't stand this pain much longer
I walk in shadows searching for light
Cold and alone no comfort in sight
Hoping and praying for someone who cares
Always moving and going nowhere

What becomes of the brokenhearted
Who had love that's now departed?
I know I've got to find
Some kind of peace of mind
Help me, please

I'm searching though I don't succeed
For someone’s love there's a growing need
All is lost there's no place for beginning
All that's left is an unhappy ending

Now what becomes of the brokenhearted
Who had love that's now departed
I know I've got to find
Some kind of peace of mind
I'll be searching everywhere
Just to find someone to care
I'll be looking every day
I know I'm gonna find a way
Nothings going to stop me now
I'll find a way somehow

-Jimmy Ruffin-

sábado, março 11, 2006

E uma destruiçãozita?

Começar a ouvir uma música que vai aumentando de volume lentamente até chegar um momento em que o cérebro já não consegue pensar em mais nada. Agarrar num objecto de metal e sair porta fora. Apanhar um autocarro e partir todos os vidros enquanto se canta, a gritar, a música que está presa nos ouvidos. Sair do autocarro e correr pelas ruas a partir os vidros das montras e a acertar em qualquer coisa que se mexa. Tentar deitar abaixo uma àrvore centenária aos murros e desistir quando as mãos deixam de se mexer. Continuar a correr e a gritar, entrar no metro e incendiar uma carruagem. Fugir dos seguranças e começar a ir contra as paredes e usar, com força, a cabeça como aríete. Destruição e auto-destruição de mãos dadas e a saltar felizes da vida.

Some say you're trouble, boy
Just because you like to destroy
All the things that bring the idiots joy
Well, what's wrong with a little destruction?
(Franz Ferdinand)

Fazer tudo por tudo para tirar uma música da cabeça... e dos ouvidos. E depois regressar a casa e adormecer no sofá com a televisão ligada.

sexta-feira, março 10, 2006

Uma aventura no ar e uma toalhita

As letras que estão a ler neste momento foram escritas a bordo de um avião. Quer dizer, estas – S, V, U e J – não. Estas acabaram de ser escritas agora.
Adiante. O comandante fala, neste momento, por isso vou fazer uma pausa para o ouvir e…


[momento em que ouço o comandante]


…é escusado. A única coisa que consegui perceber é que ele é o comandante e está vento.
MAS O QUE É ISTO? Que obsessão doentia é esta? Volta e meia passa aqui um palhaço… quer dizer, uma hospedeira maquilhada e “jhjolpi” [alternativa aos tradicionais “tunga” e “zás”], fita-nos com um esgar de loucura e pergunta, vezes sem conta: - “posso levar a sua bagagem? Posso? Deixe-me pendurar o seu casaco? Deixe. Eu levo, hein? Que acha? Quer mais pão? Pão? E café? Vai tomar café? Café? Um bolinho?”… safa! Já disse que estou bem. “E uma massagem nas axilas, vai desejar?” – ok, gostava que me perguntassem isso, mas isso não vai acontecer.
Ao meu lado, rios de saliva cristalina escorrem… sim, saliva. O passageiro que está ao meu lado está em transe desde que se sentou. Ou será apenas meditação? Cá p’ra mim é vegetação.
Eu bem os vejo a andarem de um lado para o outro e, quando chegam “ao fim” do avião, entram para um compartimento isolado por uma cortina. Agora pergunto: - “o que é que se passa ali?”. É que dali saem todas as refeições do avião e, que eu tenha visto quando entrei, cabem apenas duas pessoas em pé naquele espaço. É certo e sabido que as hospedeiras dominam a arte do contorcionismo, mas… pá, isto preocupa-me.
Enquanto comia (de salientar que aqui, neste avião, existe o pão mais pequeno do mundo) uma mulher saiu de trás da cortina e veio, lugar a lugar, com uma bandeja cheia de pães do tamanho de pequenos seixos, perguntar se alguém queria mais pão. Por momentos, vi, de esguelha, por entre a cortina misteriosa, um padeiro banhado em farinha e fermento, perguntando, aos berros, “Clotilde, acabaram-se-me os pães com chourííííííííííííço!!! Preciso que vás lá fora buscar!!”. (Sim, todas as hospedeiras se chamam Clotilde).
Lisboa aproxima-se a olho nu. O comandante fez já saber que isto de Lisboa andar por aí nua às quintas-feiras á noite não é ideia dele e pediu aos pais que trazem as suas crianças para lhes taparem os olhos.
E que fixação é esta dos construtores de aviões em quererem que ganhemos três torcicolos e saiamos do voo com uma artrose aguda no pescoço? Passo a explicar.
Quando sentado na cadeira, com as costas direitas, se quero ver o que se passa lá fora (estou no meu direito, pois sou um cidadão com direitos… e tortos), tenho de, estúpida e brutalmente, torcer o pescoço para trás, pois a janela está ligeira mas incomodativamente atrás do assento. E se, na esperança de ser esperto, quero ver o que se passa na janela da frente, tenho de dar constantes e dolorosas cabeçadas no banco da frente. É ou não é estúpido?... o quê? Eu às cabeçadas ou isto das janelas?
São 20:30 da noite e a única coisa que se vê, cá de cima, é a Estrada da Luz!! AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!
BASTA!

Toalhitas! Dêem-me mais toalhitas humedecidas para limpar as mãos e o rosto. É que, são fantásticas! Toalhitas. Hein… toalhitas! TOALHITAAAAAAAAAS!

Já aterrei? Já aterrei? Já aterrei!

sexta-feira, março 03, 2006

Eram dois cafés e uma posta de garoupa grelhada, fáxavôr

É com gáudio, alegria e alguma parvoíce à mistura que estou de volta. Este “de volta” não é um “de volta” de andar às voltas. Isso seria parvo. Também não estou de volta qual D. Sebastião, até porque hoje não está nevoeiro e acabou-se aqui e agora o meu tempo para fazer piadas deste calibre. Assim… más!
O Primavera no Chumbo do Matraquilho orgulha-se de se debruçar sobre um assunto que marca a actualidade. Algo que é do interesse geral dos leitores. Algo que transforma a nossa sociedade. Algo que está incutido nas mentes dos maiores pensadores do nosso tempo. Algo que (sim, já chega de algo).
O café. Que obsessão é essa? O português não vive sem o café, pois não? Não, respondam-me, enviem sugestões. Aquele que um dia bebeu uma chavená de café nunca mais foi o mesmo. Por vezes deparo-me com a seguinte situação: ao almoço, com outras pessoas, ainda nem o arroz de tomate com os jaquinzinhos fritos acabámos de comer e já um ou dois dos presentes na mesa estão a vociferar uns quantos ditongos, com os olhos esbugalhados: “café… t’mar café… humm… c’fé… ped’os cafés… PEDE OS CAFÉS!!... QUEM É QUE QUER CAFÉ?” Os gritos de desespero já se assemelham aos de qualquer cidadão português ao ver a série televisiva “O Trio Maravilha”.
Relato aqui uma história que se reveste de algum suspense e de muitas gotas de urina perdidas neste preciso momento. Ora bolas pá, lá vão mais umas calças para lavar. Sim, sim, adiante.
Na demanda por um pequeno-almoço, entrei num pequeno café de bairro, na bela e pacata localidade de Moscavide. Desde já reforço a beleza daquele local. É belo. Para que conste, nesse dia resolvi andar de olhos fechados. Continuando.
Ao entrar no café, já ele cheio de autênticos menir’s humanos. Menir’s? Passo a explicar: as mulheres com mais de 64 anos que moram em Moscavide, além de serem pesadas (na totalidade), comportam todo o seu peso na zona da cabeça, sendo que a laca gasta por dia é de quase duas (mil) latas. O aerosol produzido nas casas-de-banho destas pessoas chega para destruir a camada do ozono em menos de dois minutos. Claro que isso não acontece porque a porta e a janela da casa-de-banho está fechada. Adiante. Cada cabeça daquelas, usadas, entre outras coisas, para partir nozes, pediu o seu pequeno-almoço ao Sr. “João” (usaremos um nome fictício, não por respeito ao empregado de balcão, mas mesmo porque não me lembro do nome do homem). Enquanto a D. Maria Antónia pedia o seu galão e o seu pastel de nata, o Sr. João estava já a atender a D. Josefa (que tinha pedido um garoto e uma fatia de bolo de cenoura), enquanto perguntava à D. Clementina como tinha corrido a operação da extracção de casca. AHAHAHAHAHAHAHAH!!! (Clementina = citrino… “extracção de casca”)… ai, que piada! Genial.
Retomando a odisseia, enquanto o Sr. João atendia estas três criaturas, servia um copo de diurético ao adolescente seboso e porco que acabara de chegar de um jogo de futebol, fazia a conta da D. Manuela (que havia encomendado seis dúzias de sortidos húngaros – talvez o melhor bolo do mundo) e registava o meu pedido, teve tempo ainda de tirar o copo de leite do microondas para a D. Felisberta, que já tinha tirado a dentadura para poder comer o gigantesco queque. Enquanto fazia o meu pedido, o Sr. João revelava-se como o Flash Gordon do Café. Este homem conseguia, por detrás do balcão, mover-se a uma velocidade sobre-humana. O olho humano quase não conseguia acompanhar. Nunca esquecerei o momento em que paguei o meu pequeno-almoço com uma nota de dez euros e o Sr. João a recebe com a mão que segurava um copo de leite com chocolate e, na outra, uma fatia de filhós. Ao mesmo tempo, João conseguia registar o pedido na máquina registadora e conferir o troco. Este é, de facto, o Obikwelu da Restuaração, o Speedy Gonzalez do Pequeno-almoço. Palmas para o Sr. João.
Palmas para mim. E palmas para todos nós. E palmas para quem lê isto. Haja gente paciente e com tempo livre nas mãos.