quinta-feira, janeiro 05, 2006

"Cimento que é quase água barrado com doce de tomate selvagem" - Capítulo III

Na pacata aldeia de Hanniye, os putos, em cuecas e com camadas de ranho seco mais densas do que o manto terrestre, gritam qual (e mais que) os figurantes de “A Revista é linda”, enquanto brincam em cima das cinzas do incêndio que queimou toda a estância. Sobraram apenas duas slot machines com desenhos muito parvos e uma lancheira de um dos operários – deixada ali propositadamente porque a sua mãe tinha-lhe enviado um lanche que era uma porcaria e ele queria Kinder Délice. Enquanto as chuvas ácidas queimam a pele aos transeuntes de Hanniye (os putos que andam em cuecas na rua são imunes a isso) Faustino ataca deseperadamente Manfredo com um baton vermelho-vivo, mas o estupidamente parvo Manfredo defende-se com um Abflex e grita: “Agora sim, já tenho uns abdominais mais duros do que o muro de Berlim”. Faustino desde logo se apercebe que está a lidar com um profissional e dá-lhe uma K7 de Trio Odemira com o hit “Ana Maria”. A partir do momento em que se deixa de ouvir Bon Jovi, a aldeia de Hanniye mergulha num clima de paz e conforto que até Dinorá se consegue soltar. A nossa heroína corre para os braços de Faustino e Faustino injecta-a.
[silêncio. A piada que acabastes de ler foi má de mais]
No momento em que o tão esperado beijo está para acontecer, a mulher do café que não tem nome chega e diz, enquanto sacode dos louros e encaracolados cabelos de Faustino os dois quilos e meio de cinza que ali pousara, “sai um café”. Faustino chora, não por não ter conseguido beijar Dinorá, que tem cambrias nos lábios e não consegue fazer nada senão sorrir, mas por ter ouvido a senhora do café que não tem nome dizer algo tão poético. Manfredo foge para parte incerta.
Mas o momento de tensão está perto. Dinorá, que por sinal mede mais 86 centímetros do que Faustino (mesmo tendo uma acentuada corcunda), abraça Faustino e prepara-se para o beijar, mesmo com a boca completametne presa. Faustino tem medo, pois está a ser apertado com tanta força que, mesmo gagejando, consegue proferir uns laivos de dor e agonia: “e... e... eeeeeu est... tou... tou... tou... tou... estou um pou pou pou pou pou pouco do... do... do... do... dorido. Na na na na na não dá papapapapa seres um ‘cadito má má má máis mei... mei... mei... mei... meiga?”. Dinorá interpreta aquilo como sendo uma ofensa e parte à acção. Desta vez, Dinorá quer ter a certeza que arranca todos os pelos do peito de Faustino. Ora, o nosso orgulhoso Faustino pode perder o amor a muita coisa, mas aos pelos do peito que transporta desde que tem 2 anos, ai, aí ninguém mexe.
[momento de suspense. Manfredo surge de novo e põe, no seu tijolo, “Saricotalho, bacalhau, azeite e alho” de Tonicha. Ao som da melodia sentimental, Dinorá e Faustino trocam olhares de tensão]
Entretanto, Sylvester Stallone passeia-se por ali de avental, enquanto exibe as meias brancas que acabara de comprar nos saldos do “Ferrador”. Envergando uma metralhadora M-60 numa mão e uma faca de trinchar perús e coisas dessas, Stallone pergunta se se passa alguma coisa. Todos respondem: “não não não, então? Claro que não, está tudo bem, não é malta?”, enquanto dão palmadinhas nas costas uns dos outros. A pancada que Dinorá deu em Faustino foi tão forte que este cuspiu três dentes (molares) e ficou ainda mais estrábico.
Sylvester Stallone foge com o rabo à seringa e vem até aqui, a minha casa, esbofetear-me por ter utilizado uma expressão como “fugir com o rabo à seringa”.
Após ver que tinha entortado mais os olhos a Faustino, Dinorá desata a correr sem destino. Por ali passa a mãe de Faustino que, em vez de ir confortar o filho por este agora não conseguir ver as duas mãos ao mesmo tempo, se dirige junto de um empresário circense que ali está, parado, completamente ao acaso, em busca de novos talentos. A barba da mãe de Faustino desde logo convence o empresário, que a põe num número de suspensão a mais de sessenta metros do chão, presa somente pela barba, ali, no meio de todos. (Ainda hoje todos estão para saber de onde apareceu a grua para pendurar a mãe de Faustino e o público para assistir ao seu espectáculo).

Voz off enfemeninada – Até à data, ninguém sabe onde anda Dinorá. Um esquimó afirma tê-la visto perto da Sydney Opera House a fotografar gaivotas com uma máquina que tinha ganho num concurso de projecção de caroços de azeitona com a boca.

1 Comments:

Blogger Anaoj said...

Numa palavra: piu.

8:42 da tarde  

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