terça-feira, janeiro 17, 2006

É que não se aprende nada neste sítio. Irra!

Era uma vez um gato preto de nome Matias. Escorraçado pela sociedade, Matias saiu à rua numa sexta-feira comum e vulgar como todas as outras. Não. Não era vulgar como todas as outras. Era uma sexta-feira-13. AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! (este é o grito que se ouvirá sempre que “sexta-feira-13” AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! for pronunciado).
Matias passeava-se pelas ruas de Alcabideche quando, à frente dele passou um gato preto. Matias miou alto e forte. Tão alto foi o miar de Matias que até as pedras (do caixote da areia para as fezes) cantaram. No entanto, Matias esquecera-se que também ele era um gato preto. Afinal não havia razão para temer o azar.
Mais tarde, em frente a uma barbearia cujo proprietário tinha mais de 126 anos de idade, estava um escadote aberto que servia, juntamente com o andaime mais inseguro do mundo, de apoio a um operário sérvio-montenegrino cujo nome não revelarei. Apenas direi que a primeira letra era um “Y” e a última um “I”. Matias, para se desviar do piano de cauda que caía do 12º andar da barbearia (não haverá algo de estranho na construção desta frase?), passou por debaixo do escadote. Matias miou. Afinal aquilo era um escadote de alumínio mas de alumínio bem rasca. Matias já se esquecera de que era sexta-feira-13 AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!! e dirigiu-se a uma tasca ali perto para beber um café. Quando lá chegou, a dona do café partiu um espelho, no calor da discussão com o seu marido (homem de grande porte com um bigode farfalhudo capaz de fazer inveja a Chalana, Artur Jorge e outros que tais, reis do bigode nacional).

Este é o resultado de querermos satirizar o fenómeno “sexta-feira-13” e a única coisa que nos ocorre é algo tão estúpido como o que acabaram de ler. Se o leram até ao fim, os meus parabéns. Se não o leram até ao fim, os meus parabéns à mesma, pois isto é estúpido de mais.

Serviço de Urgência. Há uma série de televisão com este nome – “Serviço de Urgência”. Tem um nome bonito. Faz lembrar… humm… sei lá… faz lembrar… tipo… um hospital e coisas desse estilo, não faz? É.
[maxilar superior saliente, dentes cravam o lábio inferior com toda a força disponível neste corpo. Suor frio e pungentes dores na epiglote. A piada foi muito má]
Algumas considerações relativamente a isso.
Porque é que só nessa série televisiva é que ouço palavras como, por exemplo, “rotinas alargadas, gasimetria e hemograma”. Pá, isso é tudo muito bonito, mas passemos ali ao Hospital de S. José. Os lá da série do Serviço de Urgência entram sempre deitadinhos, numa maca e são logo atendidos por todo o staff de serviço (mas aquela gente não tem mais ninguém para tratar?... é que de repente largam tudo o que estavam a fazer). Cá em Portugal não. Cá somos logo encaminhados para a sala de espera. Tão bom, sentarmo-nos mesmo em frente a um velhote tuberculoso com um cheiro a xarope para a tosse e ao lado de uma mulher que sofre de obesidade mórbida. Depois somos chamados para a triagem, onde somos atendidos por um médico espanhol que é, talvez, o homem mais simpático do mundo. Na série televisiva até os médicos e enfermeiras se gladiam para saber o nome do sinistrado. É curioso porem-se a falar para o doente e quererem saber o nome, idade, estado civil, loja onde comprou a mala-que-é-tão-gira. Cá em Portugal somos logo invadidos por perguntas como: “humpf… nom… idad…”. É que nem acabam as palavras. Depois, lá naquele hospital da série, raramente as pessoas morrem. Aquilo é um antro milagroso. Cá não. Cá é uma festa. Se uma pessoa tem o azar de dizer, como eu, que é alérgica à penicilina então aí receitam-lhe antibióticos com penicilina. “Ah!, ele é rijote e tal”, dizem os tão doutos médicos.
Depois? Bem, depois, caso entremos assim mais pó lesionados, somos logo assistidos por um médico que está a mastigar uma das maçãs mais podres que havia no hospital, enquanto segura, na outra mão, uma sandes de atum com mais quantidade de salmonelas do que uma maionese estragada. E, está claro, o diagnóstico é, geralmente, “isso é gripe”. Depois não há cá “rotinas alargadas nem hemogramas nem gasimetrias” (o que quer que isso seja). Há, isso sim, “ah!, vou ter de o algaliar e terá de fazer um clister opaco enquanto lhe fazem uma endoscopia”. E pronto. Saímos de lá mais doridos do que aquilo que já estávamos.

Resta-me ressalvar o facto de eu ser amigo da melhor médica portuguesa e de conhecer, pelo menos, duas ou três pessoas que estão a estudar medicina (elas sabem quem são) e que serão, no futuro, juntamente com a melhor médica portuguesa (que eu conheço e digo só que se chama Ana), o orgulho da nação em termos de medicina.

Mas… mas… mas… NINGUÉM DIZ NADA DE INTERESSANTE? É que, sinceramente.