Olhe, depois da lobotomia traga-me uma costeleta de novilho, por favor. Bem passada.
Fui ao cabeleireiro.
Qual de nós nunca foi? Tony Ramos nunca foi.
Narro aqui a experiência, revestida de abundante parvoeira e de muita sujidade na parte traseira da roupa interior por mim trajada nesse dia, mas deixemos isso.
Após quase uma hora de ansiosa espera, durante a qual contei as linhas que identificam as minhas impressões digitais e medi o perímetro do espaço comercial no qual me encontrava com um pau de fósforo, chamaram-me. (Pronto, ok, não consegui medir o perímetro do espaço comercial. Mas contei as linhas todas das minhas impressões digitais. São umas quantas.).
Sentei-me numa cadeira e uma senhora aproximou-se, muito simpática, perguntando como é que ia ser. Eu disse-lhe que estava capaz de comer uma costeleta de novilho, grelhada, com muita batata frita e um arrozinho branco a acompanhar. Ela deu um impetuoso grito de fúria e disse: - “A minha colega já o atende”.
Fui enviado, como castigo, para uma cadeira estranha, e por momentos vi-me numa consulta de ginecologia, uma vez que aquela cadeira tem, tal e qual, o formato e o grau de inclinação de uma daquelas sombrias e escuras poltronas que equipam o consultório dos senhores doutores que utilizam o relógio entre o cotovelo e o ombro.
Dei por mim com alguém a lavar-me a cabeça e a descobrir, aos gritos, que afinal há mais variantes de dermatite seborreica do que aquelas que são conhecidas. Ao mesmo tempo nevava.
Enquanto me esfregavam sôfrega e violentamente a cabeça, fui cegado por dezenas de minúsculas lâmpadas incandescentes colocadas estrategicamente no tecto do salão. A sua luz, brilhante e convidativa, rasgou-me a córnea de alto a baixo e por momentos senti-me incapacitado mentalmente.
[A verificação ortográfica do processador de texto que utilizo aconselhou-me a ponderar a substituição do conjunto frásico “senti-me incapacitado mentalmente” por “sou e sinto-me incapacitado mentalmente”]
Após a lavagem, a senhora que a consumou esfregou-me a cabeça com violência tal que hoje à tarde vou tirar os pontos resultantes das lacerações provocadas por uma simples toalha.
Cortaram-me o cabelo. Devo dizer que foi a parte menos custosa, embora a mais longa, de todo o processo. Quando pensava que nada mais tenebroso poderia acontecer, eis que ouço: - “Vamos lavar?”.
Rapidamente senti-me invadido pelo desejo de gritar “Água fria da ribeira (…)” e de procurar tudo o que fosse roupa branca ali presente, mas esbofeteei-me três vezes e borrifei a cara com pó de talco fora da validade e passou-me essa vontade.
De volta à cadeira do horror, e após nova e penosa lavagem, durante a qual chorei por não conseguir ver sequer a escuridão, vi um instrumento que me meteu medo. Pensei para comigo: - “Egas Moniz ditou o meu fim. A excisão profunda do meu lobo pré-frontal é uma realidade”. A lobotomia estava próxima. O suor frio escorria, misturado com os cerca de 2,15 quilogramas de champô que me cobriam o espaço capilar. Ainda pedi anestesia, mas não obtive resposta. Não. Não me iam invadir o cérebro (ou o que resta dele). Iam, isso sim, massajar-me o couro cabeludo. Ainda hoje me questiono sobre qual o local onde arranjaram aquela peça. É que ou muito me engano ou não senti sequer uma comichãozita. Será que a compraram numa das 796.482.351 lojas de chineses que há (só) em Lisboa? Provável.
Provável é eu ser linchado em praça pública quando este texto for lido, mas não faz mal.
Qual de nós nunca foi? Tony Ramos nunca foi.
Narro aqui a experiência, revestida de abundante parvoeira e de muita sujidade na parte traseira da roupa interior por mim trajada nesse dia, mas deixemos isso.
Após quase uma hora de ansiosa espera, durante a qual contei as linhas que identificam as minhas impressões digitais e medi o perímetro do espaço comercial no qual me encontrava com um pau de fósforo, chamaram-me. (Pronto, ok, não consegui medir o perímetro do espaço comercial. Mas contei as linhas todas das minhas impressões digitais. São umas quantas.).
Sentei-me numa cadeira e uma senhora aproximou-se, muito simpática, perguntando como é que ia ser. Eu disse-lhe que estava capaz de comer uma costeleta de novilho, grelhada, com muita batata frita e um arrozinho branco a acompanhar. Ela deu um impetuoso grito de fúria e disse: - “A minha colega já o atende”.
Fui enviado, como castigo, para uma cadeira estranha, e por momentos vi-me numa consulta de ginecologia, uma vez que aquela cadeira tem, tal e qual, o formato e o grau de inclinação de uma daquelas sombrias e escuras poltronas que equipam o consultório dos senhores doutores que utilizam o relógio entre o cotovelo e o ombro.
Dei por mim com alguém a lavar-me a cabeça e a descobrir, aos gritos, que afinal há mais variantes de dermatite seborreica do que aquelas que são conhecidas. Ao mesmo tempo nevava.
Enquanto me esfregavam sôfrega e violentamente a cabeça, fui cegado por dezenas de minúsculas lâmpadas incandescentes colocadas estrategicamente no tecto do salão. A sua luz, brilhante e convidativa, rasgou-me a córnea de alto a baixo e por momentos senti-me incapacitado mentalmente.
[A verificação ortográfica do processador de texto que utilizo aconselhou-me a ponderar a substituição do conjunto frásico “senti-me incapacitado mentalmente” por “sou e sinto-me incapacitado mentalmente”]
Após a lavagem, a senhora que a consumou esfregou-me a cabeça com violência tal que hoje à tarde vou tirar os pontos resultantes das lacerações provocadas por uma simples toalha.
Cortaram-me o cabelo. Devo dizer que foi a parte menos custosa, embora a mais longa, de todo o processo. Quando pensava que nada mais tenebroso poderia acontecer, eis que ouço: - “Vamos lavar?”.
Rapidamente senti-me invadido pelo desejo de gritar “Água fria da ribeira (…)” e de procurar tudo o que fosse roupa branca ali presente, mas esbofeteei-me três vezes e borrifei a cara com pó de talco fora da validade e passou-me essa vontade.
De volta à cadeira do horror, e após nova e penosa lavagem, durante a qual chorei por não conseguir ver sequer a escuridão, vi um instrumento que me meteu medo. Pensei para comigo: - “Egas Moniz ditou o meu fim. A excisão profunda do meu lobo pré-frontal é uma realidade”. A lobotomia estava próxima. O suor frio escorria, misturado com os cerca de 2,15 quilogramas de champô que me cobriam o espaço capilar. Ainda pedi anestesia, mas não obtive resposta. Não. Não me iam invadir o cérebro (ou o que resta dele). Iam, isso sim, massajar-me o couro cabeludo. Ainda hoje me questiono sobre qual o local onde arranjaram aquela peça. É que ou muito me engano ou não senti sequer uma comichãozita. Será que a compraram numa das 796.482.351 lojas de chineses que há (só) em Lisboa? Provável.
Provável é eu ser linchado em praça pública quando este texto for lido, mas não faz mal.
1 Comments:
Palavras para quê, é um artista pt.
http://h22o.blogspot.com/
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