terça-feira, maio 02, 2006

Nada é mais interessante do que isto

Trago hoje um assunto que é do interesse de todo o cidadão interessadamente interessado em temáticas interessantes. Interessante, o facto de se poder juntar palavras da mesma família da mesma frase sem cair no tão comum e parvo erro da redundância. Quer dizer, até há alguma redundância naquilo que eu disse no primeiro período desta odisseia lírica, mas isso também não interessa (estão a ver? Mais uma vez a alusão ao “interesse”). Interessar interessa, mas não é, na sua totalidade, objecto de interesse.
Mas como não é sobre coisas interessantes que vou tecer comentários, debruço-me agora sobre aquilo para o qual a minha massa encefálica está inclinada hoje – nada.
É verdade, o que ides ler resume-se tão-somente a isto – nada.
Mas é possível encher linhas e linhas (quer dizer, aqui no processador de texto não há linhas como num caderno pautado, o que acho errado e de muito mau gosto por parte dos senhores da Microsoft) com matéria tão vazia de conteúdos? Claro que sim.
Imaginem que durante o tempo em que estão a ler isto estão a ler um conto de Eça ou até mesmo uma epopeia. Já estão a imaginar? Não? Eu também não, mas o que é certo é que á medida que eu vou despejando palavras, vocês lêem e, no entanto, nada de útil chega ao vosso cérebro. É certo que quando acabarem de ler isto, a vossa vontade de me agredir será maior ainda do que a natural vontade que têm, diariamente, de agredir a minha pessoa, mas tudo bem. À contagem de caracteres, esta magnífica peça de nada regista já 1451 inserções. Nada mau, para quem, quando começou este texto, não tinha sequer um tema. Quer dizer, no fundo até o tenho – nada. Bem, no fundo no fundo não o tenho, mas o que é que isso interessa? Nada.
Mas perguntam-me vocês: - “então mas falar de nada tem arte?”. Meus amigos, eu respondo-vos como Pat Morita respondia a Daniel-san – “então e o tigre que dança não é mais ágil do que a árvore que se abana?”. Pois é, ficaram na mesma. Eu também, em todos os filmes do Karate Kid que vi. É certo que aprendi que uma dona de casa é capaz de arrumar o maior dos rufias apenas com o gesto de limpar uma janela ou de encerar um carro, mas pronto, se calhar foi só isso.
Mas é sobre nada que as principais filosofias foram construídas. Epá, será que daqui vai sair uma daquelas filosofias chatas que, daqui a umas boas décadas (duas, talvez) seja estudada por jovens imberbes nas escolas públicas? Será que, a meio de diálogos estudantis, a temática será esta: - “epá, o que é que estás a dar em Filosofia? Olha, acabei a semana passada David Hume e estou agora a dar o ‘Nadismo Santosiano’ lá daquele tótó de quem nem o nome sei!”.
Nada é discutir (amigavelmente) com o nosso colega de trabalho quem é que pertence aos Velvet Revolver e quem é que se mantém nos Gun’s & Roses e quem é que era dos Gun’s & Roses e agora está nos Velvet Revolver e quem é que era dos Stone Temple Pilots e agora faz parte dos Velvet Revolver e não é dos Gun’s & Roses. Ah, esperem, isto nem sequer se perfila como ‘nada’. A única coisa que se sabe é que a memória de Axl Rose de kilt continua assustadoramente presente na minha mente.

A linha de intervalo anterior tem cerca de 120 horas. É mais uma prova do que custa escrever sobre nada. Estive mais de cem horas para descobrir o que é que ia escrever neste parágrafo e, uma vez mais, isto torna-se num ciclo vicioso – durante este período apenas consegui dizer que tive mais de cem horas para escrever isto. Ora, isso já as pessoas sabem. Se é uma coisa sobre a qual as pessoas já têm conhecimento, para que é que eu estou para aqui a escrever continuamente? Não sei. Eu não consigo parar. Parece que é mais forte do que eu. Escrever sobre nada é mesmo fixe. Deviam experimentar. Ou então não experimentem. Não deve valer muito a pena. Olha eu, estive mais de cinco dias a tentar arranjar algo para publicar e deu nisto. Também podia ser pior. Uma fractura na pélvis é muito pior. Digo eu.

2 Comments:

Blogger pedro pina said...

genial :]

10:52 da tarde  
Blogger Anaoj said...

Tenho só uma palavrinha para ti, meu amigo: Interessante.

4:23 da tarde  

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