sexta-feira, agosto 11, 2006

A Odisseia de Josélito no País da Farfalhuda #20

O Passado está aqui, guardado a sete chaves.

Capítulo XX

Zé Tó tinha um medo mortal e mortífero de tunas. Principalmente daquelas que não conseguem decidir que mulher lhes convém: se a gorda se a magra, se a casada ou a solteira, se a incontinente se a flatulente. Zé Tó começou a correr (e enquanto corria pensou como há muito não caminhava, simplesmente) mas a tuna, ou aquilo que o perseguia pelas planicies alentejanas, teimava em segui-lo à mesma velocidade. E Zé Tó estava cansado. E sabia que no Alentejo não havia espaço para oásis. Parou. Respirou. Levou uma tacada de golfe na nuca e caiu, a sangrar. Acordou num mundo de fantasia em que miniaturas do Michael Jackson dançavam tango acompanhados por gigantes que se assemelhavam à Io Apoloni mas com um problema de macrocefalia. De um lado viam-se canecas do Batatoon a flutuar, do outro janelas abriam-se para vales coloridos onde rituais de acasalamento entre pinguins e várias Serenellas Andrade se sucediam a uma velocidade impressionante. À frente de Zé Tó estava um palco. Nesse palco acontecia um mega-concerto (do género do Live Aid, Live 8, Natal dos Hospitais ou Páscoa na Cadeia de Tires). Num só palco era possível ver Carmen Miranda, Roberto Carlos, Anita Guerreiro (de seu verdadeiro nome Bebiana Cardinali) às cavalitas de Beatriz Costa, Amália Rodrigues e Poupas Amarelo, Isabel Angelino (que balançava uma cadeira em círculos com os dentes como no anúncio da Pasta medicinal Couto), Glória de Matos, Filipe La Féria, Ágata, Mickael Carreira, Merche Romero (sob o efeito de suplementos energéticos) e, em glória, vestido de anjo e em cima de um altar com luzes de Natal, o cantor Marante. Em conjunto, cantavam uma versão tribal africana de "Something" dos Beatles. Zé Tó não entendia onde estava até ver uma placa feita de marshmallows onde se lia: País da Farfalhuda. Zé Tó sentiu-se feliz e começou a correr pelos campos verdejantes juntamente com os clones do Carlos Paião que tinham surgido das tocas. Mas para Zé Tó, já sabem, a felicidade dura pouco. Foi quando este começou a sentir uns vultos a perseguirem-no que ele percebeu que Elsa Raposo tinha razão quando disse: "Há quem não tenha pernas, braços, quem não tenha filhos. Isto é uma migalha. E depois vem um bichinho e come." Ensimesmado pela profundidade reflexiva desta linha de pensamento Zé Tó deixou-se apanhar e fechou os olhos com força. Logo agora que tinha chegado ao País da Farfalhuda. Onde as nuvens são iguais às outras, mas feitas de goma. Onde os palhaços animadores de festas têm outro nome: pedófilos.

Não percam o fio à meada. Breves actualizações sobre o futuro de Zé Tó aqui.